sexta-feira, 23 de outubro de 2009

PINTURA E ESCULTURA

A pintura e a escultura barrocas se desenvolveram como elementos auxiliares, embora fundamentais, para obtenção do efeito cenográfico total da arquitetura sagrada que era erguida, todas as especialidades conjugando esforços em busca de um resultado sinestésico arrebatador, concorde com a tendência dramática e emocional do período, onde a religião era um aspecto dominante e a catequese empregava também recursos sensoriais para a evangelização.

[editar]Pintura

José Joaquim da Rocha:Glorificação dos Santos Franciscanos, Igreja do Convento de S. Antônio, João Pessoa

As primeiras pinturas criadas do Brasil foram realizadas sobre pranchas de madeira, em um estilo proto-barroco e subsidiárias à decoração em talha. Apareceram em meados do século XVII em edifícios das ordens religiosas, como o Convento de Santo Antônio no Rio de Janeiro, e o Convento de São Francisco, em Olinda, dos mais antigos do país, mas a maioria destes primeiros trabalhos se perdeu em incêndios ou em modernizações posteriores. Sobrevivem também alguns raríssimos exemplos de afrescos no Mosteiro de São Bento no Rio, redescobertos durante uma restauração recente, e na Igreja dos Terésios emCachoeira do Paraguaçú, estes do jesuíta Carlos Belleville, todos datados da mesma época, mas não há registro de disseminação da técnica ou de continuadores. [14].

Quase ao mesmo tempo artistas holandeses da corte de Maurício de Nassau realizaram em tela, em Pernambuco, notáveis documentos da terra e da gente local através da técnica requintada e minuciosa deFrans Post e Albert Eckhout. Foram também as primeiras grandes obras profanas da pintura brasileira. Contudo, a maioria das suas telas deixaram o país junto com eles quando voltaram à Holanda, e sua única influência local perdurou talvez em frei Eusébio da Soledade, fundador da escola baiana. Salvo estes holandeses, a pintura barroca seria praticada quase exclusivamente no terreno sacro.

Também neste período inicial surgem Baltazar de Campos, que chegou ao Maranhão em 1661 e produziu telas sobre a Vida de Cristo para a sacristia da Igreja de São Francisco Xavier, e João Felipe Bettendorff, também no Maranhão, decorando as igrejas de Gurupatuba e Inhaúba. Outros nomes que merecem nota são o frei Ricardo do Pilar, com uma técnica que se aproxima da escola flamenga e autor de um esplêndido Senhor dos Martírios, Lourenço Veloso [9], formado em Lisboa, Domingos Rodrigues, Jacó da Silva Bernardes e Antonio Gualter de Macedo, que atuaram em diversos locais entre Pernambuco e Rio de Janeiro.

O século seguinte veria a pintura florir em inumeráveis igrejas em todas as regiões do país, formando os germes de escolas regionais, ainda que por mãos em grande parte anônimas. Em 1732 Caetano da Costa Coelho introduz na Capela-Mor da Igreja da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência do Rio a primeira pintura de perspectiva arquitetural ilusionística no Brasil, uma técnica que logo ganharia muitos adeptos e teria uma culminação com José Joaquim da Rocha no teto da Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia, entre 1773 e 1774. Outros nomes são Domingos da Costa Filgueiras, Jesuíno do Monte Carmelo, Antônio Simões Ribeiro, Manuel da Cunha, Manuel de Jesus Pinto e João de Deus Sepúlveda estes dois últimos deixando bela decoração na Concatedral de São Pedro dos Clérigos. José Eloy, em Olinda, e José Leandro de Carvalho, no Rio, já mostram um estilo perfeitamente rococó. José Teófilo de Jesus é figura singular, um dos maiores representantes da escola baiana, de talento superior e com um estilo polifacetado, abordando também temas mitológicos e alegóricos, cuja obras de maior vulto surgem já no século XIX, e permanece em atividade até cerca de 1847 pouco tocado pelo neoclassicismo[15]. Em Minas trabalham muitos artistas, como Manuel Rebelo e Souza, Joaquim José da Natividade, Bernardo Pires, João Nepomuceno Correia e Castro, e a presença maior é Mestre Ataíde, o último grande mestre da pintura barroca brasileira.

É interessante ainda o belo acervo remanescente de azulejaria pintada, em boa parte importado de Portugal, mas que não obstante deu uma nota característica em inúmeros conventos, igrejas e casarios barrocos brasileiros. Assim como as outras artes, a pintura do barroco brasileiro encerra sua trajetória a partir do início do século XIX com o apoio oficial ao neoclassicismo dado pela corte portuguesa, mas seu ecos ainda seriam ouvidos até pelo menos a metade do século especialmente em regiões mais afastadas do Rio. [16]

[editar]Escultura

O barroco originou uma vasta produção de estatuária sacra, disseminada por todo o Brasil. A maioria das obras que nos chegaram deste período permanece anônima e são de nítida fatura popular. Entre os primeiros autores conhecidos estão José Eduardo Garcia, português, eFrancisco das Chagas, o Cabra, ambos ativos em Salvador. Outros personagens importantes são frei Agostinho de Jesus e frei Agostinho da Piedade, considerados os fundadores da escultura brasileira.

Com a sedimentação da cultura nacional por volta da metade do século XVIII e com a multiplicação de artífices cada vez mais capazes, nota-se um crescente refinamento nas formas e no acabamento das peças, e aparecem imagens de grande expressividade. Entretanto, a importação de estatuária diretamente de Portugal continuava e crescia com o enriquecimento da colônia, uma vez que as classes superiores preferiam exemplares mais bem acabados e de mestres mais eruditos. Muita da estatuária principal ainda nos altares barrocos do Brasil é de origem portuguesa, mas foram os modelos que inspiraram uma legião de artesãos locais.

Talhados aqui ou não, dificilmente haveria uma casa que não possuísse ao menos algum santo de devoção esculpido, e a estatuária se tornou um bem de largo consumo, quase onipresente. Salvador em especial tornou-se um centro exportador de estatuária para os mais distantes pontos do país, criando uma escola regional de tanta força que não conheceu solução continuidade senão no século XX.

O genial Aleijadinho representa o coroamento e a derradeira grande manifestação de escultura barroca brasileira, com obra magistral espalhada na região de Ouro Preto, com destaque para as obras no Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas, uma série de grandes grupos escultóricos nas capelas das estações da Via Crucis e os célebres Doze Profetas, no adro daquela igreja.

É de assinalar necessariamente a magnífica produção de escultura aplicada, no mobiliário entalhado e na talha dourada das igrejas, já bem ilustrada nas seções acima, que chegaram a altíssimos níveis de refinamento e complexidade, como provam os altares de São Bento em Olinda, a Basílica de Nossa Senhora do Carmo e da Capela Dourada em Recife, Nossa Senhora do Ó em Sabará, e em inúmeras outras edificações.

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