sexta-feira, 23 de outubro de 2009

CARACTERISTICAS E CONTEXTO (continuação)


Como exceção interessantíssima, a mão indígena é perceptível em obras de arte realizadas exclusivamente por índios ou em colaboração com os padres catequistas, fenômeno ocorrido no âmbito das Reduções jesuíticas do sul e em casos pontuais no Nordeste. Por fim, mas não menos importante, está o elemento popular e inculto, tantas vezes naïf, evidente em boa parte da produção local, já que os artistas com preparo sólido eram poucos e os artesãos autodidatas ou com pouco estudo eram a maioria do criadores, pelo menos nos primeiros dois séculos de colonização. Neste cadinho de tendências são detectados até elementos de estilos já obsoletos como o gótico em fases tardias como o fim do século XVIII, na obra de mestres como o Aleijadinho.

O resultado de todos estes entrecruzamentos e mesclas é o acervo original e riquíssimo que hoje se vê espalhado em praticamente todo o litoral do país, desde o extremo sul no Rio Grande do Sul até o norte, tocando o Pará. Para dentro, o estilo derramou-se por São Paulo e Minas Gerais, onde se exprimiu com a característica elegância rococó, e alcançou o Centro-Oeste deixando jóias como as encontradas em Goiás.

No início do século XVIII, o barroco consegue uma face relativamente unificada, no chamado "estilo nacional português", cujas raízes eram de fato italianas, sendo adotado sem grandes variações nas diversas regiões, e a partir de 1760, por influência francesa, se suaviza no rococó, bem evidente nas igrejas de Minas Gerais.

Minas teve a peculiaridade de ser uma área de povoamento mais recente, quase uma tábua rasa em termos urbanísticos, e pôde-se construir em estéticas mais atualizadas, no caso, o rococó, uma profusão de igrejas em centros urbanos novos, sem ter de adaptar ou reformar edificações mais antigas já estabelecidas e ainda em uso, como era o caso no litoral, o que as torna exemplares primorosos de unidade estilística. O acervo de arte rococó das igrejas de Minas tem uma importância especial tanto por sua riqueza e variedade como por ser testemunho de uma fase bem específica na história brasileira, quando a região foi a menina dos olhos da Metrópole por suas grandes jazidas de ouro e diamantes. Seria um dos maiores centros do barroco nacional, junto com Salvador e o núcleo de Recife-Olinda, bem mais antigos.

Neste século o barroco brasileiro já se encontra perfeitamente "nacionalizado", tendo dado inumeráveis frutos anteriores de altíssimo valor, e aparecem as figuras célebres que o levam a uma culminação, e que iluminariam em grande estilo também o seu fim como corrente estética dominante: Aleijadinho na arquitetura e na escultura, e na pintura Mestre Ataíde. Eles epitomizam uma arte que havia conseguido amadurecer e se adaptar ao ambiente de um país tropical e não-independente, ligando-se aos recursos e valores regionais e constituindo um dos primeiros grandes momentos de originalidade nativa, de brasilidade genuína, possuidora de grande força plástica e expressiva, tornando-se ícones da cultura nacional. O grande ciclo de onde surgiram foi logo depois abruptamente interrompido com a imposição oficial da novidade neoclássica de inspiração francesa, no início do século seguinte.

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