sexta-feira, 23 de outubro de 2009

ARQUITETURA

Depois da expulsão dos holandeses de Pernambuco a Igreja e a administração civil se lançaram em uma intensa movimentação construtiva, de início ainda mostrando elementos maneiristas, com frontões discretos, torres com coroamento piramidal simples e frontispícios pouco elaborados, mas logo evoluindo para um barroco pleno, quando a ornamentação é muito mais movimentada, com amplas volutas, colunas salomônicas e grande profusão de detalhes.

Igreja de S. Francisco, João Pessoa, uma cópia quase literal da igreja de Cairú, o templo inaugural do barroco arquitetônico

Da primeira fase, já no século XVII, pode-se citar como típico o Mosteiro de São Bento no Rio de Janeiro. As fachadas são sóbrias mas, em seus melhores momentos, monumentais, como exemplifica perfeitamente a Catedral de Salvador, o que não impede que os interiores sejam ricamente ornamentados, como ocorre em ambos os casos referidos. Mas a decoração interna, apesar de rica, é algo estática, organizada em áreas compartimentalizadas, os chamados caixotões ou cofres, no chamado estilo nacional português, caracterizado pela colunas torcidas revestidas de folhagens, aves e anjos, interligadas porarquivoltas no mesmo padrão, com grande homogeneidade estilística [8][9]

A igreja franciscana de Cairu, de 1654, é tida como o primeiro espécime inteiramente barroco erguido em território nacional, despido de toda influência maneirista que existia até então. Seu autor, o frei Daniel de São Francisco, criou uma fachada escalonada, num esquema triangular, com volutas fantasiosas no frontão e nas laterais; foi uma completa novidade, sem paralelos mesmo na Europa. [10].

Avançando os anos, o barroco brasileiro recebe a influência de Borromini (perceptível especialmente em Minas), se dinamiza e ganha em complexidade [11]. Ilustrativa dessa transição é a Igreja de São Franciscode Salvador, e como sempre a talha é uma atração à parte, cobrindo inteiramente todas as superfícies internas do templo, com impactante efeito de conjunto. A talha desenvolve um relevo mais alto, projetando-se tridimensionalmente do plano da parede, com caráter estatuário e arquitetônico, apresentandocariátides, anjos e guirlandas em madeira policroma, coroamentos com sanefas e falsos cortinados, revestidos com policromia ou em branco e dourado, definindo o chamado retábulo joanino, cujas feições mais importantes são a progressiva integração entre estatuária e talha, e a presença de dosséis de coroamento nos altares [12]. As fachadas adquirem mais verticalidade e movimento, com janelas inusitadas em forma de pera, losango, oval ou círculo; os frontões têm mais curvas, relevos em cantaria e estatuária, e as plantas aparecem com formas poligonais ou elípticas. Exemplos são a Basílica de Nossa Senhora do Carmo e a Igreja de Santo Antônio, em Recife, e em Salvador a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. Em Minas, a Matriz de Nossa Senhora da Conceição e a Matriz de Nossa Senhora do Pilar, em Ouro Preto, e a Igreja de São Pedro dos Clérigos de Mariana.

A partir de meados do século XVIII a influência portuguesa, que filtrava a espanhola e italiana, e dá lugar à francesa, gerando um típico rococó cujo maior florescimento ocorreu em Minas Gerais, se caracterizando pelos retábulos com coroamento de grande composição escultórica com elementos ornamentais como conchas, laços, grinaldas e flores, revestimento com fundos brancos e douramentos nas partes em relevo da decoração. No exterior dos edifícios se percebe um aligeiramento nas proporções, tornando-os mais elegantes, as aberturas são mais amplas, permitindo uma maior penetração da luz externa, e o detalhamento nos relevos em pedra chega a alto nível. Exemplos:

Em Pernambuco: a Matriz de Santo Antônio, com esplêndida talha nos altares, e o Convento e Igreja de São Francisco em João Pessoa, naParaíba, considerado por Germain Bazin a mais perfeita dentre as construções franciscanas rococó do Nordeste brasileiro [13], embora seja uma adaptação quase literal do projeto do templo de Cairu, 50 anos mais antigo. Em Minas Gerais: a Igreja de Nossa Senhora do Carmo e a originalíssima Igreja de São Francisco, talvez a obra máxima de Aleijadinho, com torres circulares de coruchéu em forma de capacete, óculoobturado por relevo, e frontispício imponente; todas estas em Ouro Preto. Diversas outras cidades mineiras possuem exemplares significativos de arquitetura rococó, entre elas Sabará, Serro, Mariana, Tiradentes, e sobretudo Congonhas, onde existe o grande complexo arquitetônico doSantuário do Bom Jesus de Matosinhos. No Rio é notável a Igreja do Carmo.

Na arquitetura civil, privada ou pública, o barroco deixou relativamente poucos edifícios de maior vulto, sendo em linhas gerais bastante modestos, cuja ornamentação se resume em arcos nas aberturas, ocasionalmente algum trabalho de cantaria ou de azulejaria, e alguma pintura decorativa no interior. Mas os conjuntos dos centros históricos de algumas cidades (Salvador, Ouro Preto, Olinda, Diamantina, São Luís e Goiás), declarados Patrimônio Mundial pela UNESCO, ainda permanecem em boa parte intactos, apresentando uma paisagem ininterrupta extensa e valiosíssima de arquitetura urbana do barroco, com farta ilustração de todas as adaptações do estilo aos diferentes estratos sociais e às suas transformações ao longo dos anos.

Do reduzido número de exemplos civis significativos se destacam a antiga Casa da Câmara e Cadeia de Ouro Preto, hoje o Museu da Inconfidência, com uma rica e movimentada fachada onde há um pórtico com colunas, escadaria de acesso, uma torre, estátuas ornamentais e estrutura em pedra, a Casa da Câmara e Cadeia de Mariana, a Câmara de Salvador, e o Paço Imperial no Rio, que foi a residência da família real.


Nenhum comentário:

Postar um comentário